BULLYING: AGRESSIVIDADE E INDISCIPLINA FORMAS DE VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS |
EDUCAÇÃO/PSICOLOGIA - 3/11/2008 02:33 por Webmaster |
Maria das Graças Teles Martins mgtmartins@gmail.com BullyingAs primeiras investigações sobre 'bullying' foram realizadas na Suécia nos anos 1970, e a partir daí o interesse se generalizou para os outros países escandinavos e outras regiões da Europa e Estados Unidos. No Brasil, os estudos enfocando o 'bullying' são mais recentes e datam da década de 1990. A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência [Abrapia] e pesquisadores como Cleodelice Fante [2003] têm se dedicado ao estudo dessa temática. Bullying- é um termo de origem inglesa utilizado para descrever atos de violencia física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo [bully] ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo [ou grupo de indivíduos] incapaz/es de se defender. A palavra 'Bully' significa 'valentão', o autor das agressões. A vítima, ou alvo, é a que sofre os efeitos delas. Também existem as vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados momentos cometem agressões, porém também são vítimas de bullying pela turma. Veja o destaque: - alvos de Bullying - são os alunos que só sofrem BULLYING [vitima]; - alvos/autores de Bullying - são os alunos que ora sofrem, ora praticam BULLYING; - autores de Bullying - são os alunos que só praticam BULLYING [agressor]; - testemunhas de Bullying - são os alunos que não sofrem nem praticam Bullying, mas convivem em um ambiente onde isso ocorre. O cientista Norueguês Dan Owelus define bullying em três termos essenciais: 1. o comportamento é agressivo e negativo; 2. o comportamento é executado repetidamente; 3. o comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Assim, podemos entender que o termo 'bullying' compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro[s], causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. De acordo com Rosana Del Picchia de Araújo Nogueira rosananog@uol.com.br e Kátia A Kühn Chedid, o conceito de Bullying pode também ser aplicado na relação de pais e filhos e entre professor e aluno, citando como exemplos, aqueles adultos que ironizam, ofendem, expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua superioridade e poder, usando deste comportamento freqüentemente. Os atos repetidos entre estudantes e o desequilíbrio de poder são as características essenciais que tornam possível a intimidação da vítima. Algumas ações que costumam estar presentes nessas práticas são: colocar apelidos, ofender, humilhar, discriminar, excluir, intimidar, perseguir, assediar, amedrontar, agredir, bater, roubar ou quebrar pertences, entre outras formas. O bullying divide-se em duas categorias: 1. bullying direto; 2. bullying indireto, também conhecido como agressão social O bullying direto é a forma mais comum entre os agressores [bullies] masculinos. A agressão social ou bullying indireto é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. Este isolamento é obtido através de uma vasta variedade de técnicas, que incluem: · espalhar comentários;· recusa em se socializar com a vítima;· intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima;· criticar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos [incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc]. Em geral são crianças e jovens vindos de famílias em que a relação afetiva é muito pobre; não existe um bom relacionamento entre pais e filhos. Deste modo, os alunos entram na escola sem ter habilidade ou capacidade para estabelecer um vínculo afetivo melhor com os colegas, estabelecendo, assim, uma relação de conflito e agressão. Ainda temos crianças e jovens cujos pais utilizam a violência física ou o grito como formas de impor autoridade e, com isso, acabam reproduzindo essa forma de se impor na escola, diante do grupo, usando a violência também. Agressividade O comportamento agressivo não é tema novo na literatura. Este comportamento apresentado por crianças no meio escolar, vem sendo estudado por diversos autores [CORSINI, 2000; MARQUES E NETO, 2001; AQUINO, 1996]. A crescente desestruturação familiar torna cada vez mais frágil o conceito de limite, ética e responsabilidade social. Como uma resposta natural a toda esta fragilidade a criança apresenta dificuldades de relacionamento. A agressividade designa uma tendência especificamente humana marcada pelo carácter ou vontade de cometer um ato violento sobre outrem. Pode também ser definida como uma tendência ou conjunto de tendências que se atualizam em condutas reais ou fantasmáticas, as quais visam causar dano a outrem, destruí-lo, coagi-lo, humilhá-lo, etc. [Laplanche e Pontalis,1973]. Nas sociedades orientais, por exemplo, devido à cultura da competitividade, a agressividade costuma ser aceita e até mesmo incentivada, sobretudo, se estiver relacionado a atitudes de iniciativa, ambição, decisão ou coragem. Porém, é reprimida se estiver associada à atos de hostilidade, sentimentos de cólera ou atos agressivos individuais [BARROS, 1998]. Considerando as constantes variações no comportamento da criança no contexto escolar, o professor sente necessidade de buscar subsídios que possam auxiliá-lo frente a este problema. As constantes manifestações de agressividade com a qual a criança convive [família, televisão e social] contribuem de forma acentuada para a reprodução desse comportamento [SILVEIRA, 2003]. A agressividade esta alcançando grandes proporções dentro e fora da escola. Fortes questões sociais como: desemprego, moradia, fome, saúde e educação, abalam a estrutura familiar refletindo no contexto escolar, pois a criança reproduz o que ela vivencia. Estas questões relacionadas com a desigualdade, exclusão social tem conduzido ao crescimento da delinqüência e da violência, quer na sociedade ou no interior da escola [FERNANDES, 2000]. Indisciplina A indisciplina é na atualidade uma das principais queixas tanto de professores quanto de alunos sendo considerado o principal problema de suas escolas. Em algumas situações é difícil separar com clareza conceitos de indisciplina e violência. Existem muitos casos em que uma ação de indisciplina transita para um ato violento. Temos como exemplo: quando dois alunos começam uma discussão durante uma aula e essa discussão desemboca numa briga em que estão envolvidas armas [ABRAPIA]. O conceito de indisciplina é extremamente amplo e vago. Algumas regras, em geral, se encontram especificadas nos regimentos escolares, mas no cotidiano das classes são os professores que, com seus diferentes estilos e formas de organização do trabalho, delimitam o que é considerado ou não indisciplina. No entanto, diferentes autores afirmam que é muito importante reconhecer o sentido anti-ético e antipedagógico de certas ações dos próprios professores, como o desrespeito aos alunos, o absenteísmo sistemático, o descaso com a qualidade de suas aulas etc. Por outro lado, considera-se que a indisciplina é um fenômeno marcado por todas as desigualdades e hierarquias sociais. Perseguições e apelidos muitas vezes estão ligados ao pertencimento racial e à orientação sexual de colegas, reforçando e recriando preconceitos e racismo. Inclui todos os atos que ferem as regras de bom funcionamento da escola e das aulas dentre elas: • as práticas de agressão física e verbal entre colegas, que caracterizam o 'bullying'; • todas as formas de desrespeito e agressão verbal aos professores e outros educadores da escola; • ações contra o patrimônio, como pichações, quebra de carteiras e materiais; • recusa a participar das atividades escolares, conversas, barulho ou deslocamentos indevidos durante as aulas; • e muitos outros atos, freqüentemente chamados de microviolências ou incivilidades. Dessa forma, é importante entender que tanto o 'bullying' quanto a indisciplina não acontecem apenas devido a características individuais de cada aluno. Existem casos de problemas de personalidade no qual o apoio de profissionais especializados torna-se fundamental para amenizar conflitos e comportamentos inadequados [CONSTANTINE, 2004]. Implicações Psicológicas Podem ocorrer diferentes implicações psicológicas. O impacto imediato que pode ser percebido é a queda do desempenho escolar em razão da convivência da criança em ambiente agressivo, que gera medo, ansiedade, insegurança repercutindo no seu nível de aprendizado. Elas não conseguem reagir e acabam sendo alvos freqüentes dessas agressões, gerando sentimentos de vergonha e de medo, fazendo com que passem a se isolar cada vez mais, com receio de ficarem expostas. De acordo com Dr. Aramis Neto [2007] são crianças que têm poucos amigos, começam a manifestar reações de rejeição à escola, simulam mal-estar, dor de cabeça e dor de barriga em casa só para não ir à escola, e podem despertar sintomas mais graves tais como: depressão, ansiedade, baixa auto-estima. Diversos autores afirmam que muitas crianças, vítimas de Bullying, podem desenvolver medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam retornar à escola. A fobia escolar geralmente tem como causa algum tipo dessa violência. Outras crianças que sofrem Bullying, dependendo das características de suas personalidade e das relações com os meios onde vivem, em especial entre suas famílias, poderão não superar totalmente os traumas sofridos na escola. Poderão, ainda, crescer com sentimentos negativos e com baixa autoestima, apresentando sérios problemas de relacionamento no futuro. Poderão, outrossim, assumir um comportamento agressivo, vindo a praticar o Bullying no ambiente sócio-cupacional adulto e em casos extremos, poderão tentar ou a cometer suicídio. Assim sendo, nosso esforço enquanto educadores é tentar entender as atitudes de nossos alunos e alunas, quais são as mensagens que eles estão nos passando por meio da linguagem da indisciplina: por que eles desobedecem e desafiam? Por que insistem em atrapalhar as aulas e os colegas? Por que são agressivos e desrespeitosos para com os colegas? Por que destroem sua própria sala de aula, sua escola? Bibliografia: AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. Ballone GJ - Maldade da Infância e Adolescência: Bullying - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, c onsultado em 2007.BARROS, Célia S. G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. 11 ed. São Paulo: Ática, 1998.COSTANTINI, Alessandro. Bullying: como combatê-lo, São Paulo: Itália Nova, 2004. FANTE, Cleodelice e PEDRA, Augusto. Fenômeno bullying: estratégias de intervenção e prevenção da violência entre escolares. São Paulo, 2003.FERNANDES, João Viegas. Globalização excludente indisciplina e violência nas escolas. 2001. Disponível em: www.educação.te.pt Acesso em : jan 2008 GALVÃO, Izabel. Cenas do cotidiano escolar: conflitos sim, violência não. Petrópolis: Vozes, 2004. NETO, Aramis .o que é Bullying e quais as conseqüências de sua prática para os jovens e crianças?. Pedagogia do Cidadão ecumênico, 2007.PEREIRA, Sybeli S.; BELTRAME, Valmir. Agressividade escolar Revista Kinesis. N 18, p. 51-75, 1997.UNESCO. Primer estudio internacional comparativo sobre lenguaje, matemática y fatores asociados en tercero y cuarto grado. Santiago, Chile, 1998. |
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